terça-feira, 6 de setembro de 2011

Um mundo de mentes fechadas

Para abrir este blog, achei melhor um tema que estivesse à vista de todos, o título é sugestivo mas não sei até que ponto será o mais correcto.
As pessoas já não se relacionam, falam-se, cumprimentam-se mas não se relacionam. Ando no secundário, e é na escola que passo grande parte do meu dia. Cada vez que passo pelos meus conhecidos ouço um "Olá" mecânico, dois beijinhos ou um aperto de mão, e pronto "está feito venha o próximo". No meu prédio todos os vizinhos se evitam, se por obra do diabo se encontram no elevador dão os bons-dias e fixam o olhar nos sapatos, como se faltasse alguma coisa neles. Na rua vejo pessoas a conversar com outra que está a escrever no telemóvel, em muitas famílias fala-se ao jantar porque durante o dia "nunca há tempo", há sempre algo para fazer para reconfortar a nossa satisfação pessoal. Mas a nossa satisfação pessoal não depende das nossas relações? 
Há uns anos um professor de Religião Moral disse-me "Podes não concordar, mas na tua vida vais ter dois ou três amigos verdadeiros, aqueles por quem sentes amor e em quem podes confiar". Eu barafustei na altura e discordei completamente, mas a estranheza daquela afirmação fez-me retê-la... e hoje confirma-se. Se as pessoas não são capazes de passar a barreira da frieza e da máscara de um simples "olá", se as pessoas não conseguem estabelecer uma conversa que não tenha o mesmo caminho que todas as outras como se vão criar as relações? Hoje confirmo o que o meu professor me disse, tenho 4 ou 5 amigos, o resto são aquelas máquinas com vida de quem digo que gosto, e de facto gosto, mas não as conheço o suficiente para gostar de verdade. 
Eu posso dizer que gosto da minha vizinha do lado e que a acho simpática, mas e se ela por trás é uma pessoa profundamente cínica? Quando se cria uma relação vai-se até ao íntimo da pessoa e não apenas à primeira impressão, claro que uma relação é difícil de criar e muito mais difícil de manter, acarreta responsabilidades, desilusões, dores e estradas sem caminho, mas vale a pena, porque ao fim do dia sorrio e penso "gostei de conhecer esta pessoa". Talvez seja por medo, talvez seja por comodismo das pessoas, por dissabores passados ou pela simples alteração de mentalidades e mecanização dos seres humanos enquanto entidades que se relacionam. Não sei o porquê desta hesitação e desta distância que é mantida todos os dias e em todos os locais, mas que me faz pensar faz...
Vivemos fechados, cabeça baixa e ouvidos tapados....

3 comentários:

  1. Claro que tens razão no que dizes, a própria sociedade obriga o pessoal a ter uma vida mecanizada baseada em rotinas diárias, onde estão incluídas essas relações de que falas.
    Com o avançar do tempo parece-me que a tendência é para o numero de conhecidos aumentar, e o numero de amigos diminuir.

    JBtour

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  2. Primeiro que tudo digo que gostei bastante do que li. A verdade, infelizmente, é que é raro encontrar pessoas em que se pode confiar e é por isso que muitas pessoas preferem ter as ''mentes fechadas'', não por nao as quererem abrir mas sim por terem medo de o fazer pois não confiam em ninguém, ou porque tiveram desilusões,ou porque simplesmente não acreditam na honestidade das outras pessoas para com elas ou então porque apenas acham que ninguém os pode compreender e mais do que isso ajudar. Isso pode tornar as pessoas agrestes, pode fazer com as pessoas ''construam um mundo aparte'' e que se ''fechem'' nele, o que nunca é bom neste mundo em que precisamos uns dos outros (amigos,família...) para sobreviver como uma pessoa e não comgo uma máquina.

    jORGE

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  3. Na realidade o teu professor estava coberto de razão, e acredita que isso não é um sinal dos tempos, sempre assim foi e creio que sempre assim será. É próprio do ser humano criar relações com diversos graus de intensidade, aproximando-se sempre mais dos que mais nos tocam no intimo, quer pela semelhança, quer pela diferença, quer por aquele "não sei o quê" que não tem explicação, mas que nos faz sentir intensamente.
    Por outro lado, já é um sinal dos tempos, e tens razão quando afirmas que hoje as pessoas não se relacionam, ou melhor relacionam-se de modo diferente... É o mundo virtual, por força dos novos hábitose tecnologias.
    Hoje as pessoas não sabem e trocam o contacto humano pelo virtual, não sabem estar umas com as outras "de mente aberta" sem ter um ecrãn entre elas... Mais depressa se interrompe uma conversa directa com a pessoa que está à nossa fernte para atender uma chamada de Tm, estejamos onde estivermos.
    Todos querem dar uma imagem do que não são (mas gostariam de ser?, vivemos de aparências, somos os fantoches dos nossos próprios conflitos e frustações... é mais importante transmitir uma imagem que - achamos - impressiona o outro, ou nos eleva em status, do que mostrarmos o que somos na realidade (de mente e coração aberto).
    Muitos de nós nem se conhecem a si mesmos, tão vinculados estão ás aparências que querem mostrar... somos fantoches porque não sabemos ou não temos coragem de ser verdadeiros, com todas as implicações que isso tem na relação com o outro.
    Muito há para dizer sobre este assunto, ficam apenas duas pequenas idéias:
    - A relaçaõ com o mundo (com o outro) "parte" sempre de nós, ou pelo menos temos sempre uma quota parte do papel.
    - Face a tudo isto arriscaria a dizer que mais que "um mundo de mentes fechadas" estamos "num mundo de corações fechados, silenciados"...
    Grande abraço de admiração.

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